domingo, 20 de junho de 2010

Música nas escolas: uma realidade ainda distante

Próximo ao fim do prazo estipulado pelo governo federal para adequação das escolas públicas e privadas ao ensino de música, muitas instituições de ensino ainda estão aquém desta meta.

O Colégio Sagrado Coração de Jesus que, há dois anos, contava com a disciplina de Música da Alfabetização à 3ª série do Ensino Fundamental, em nada ampliou esses dados – já que o conteúdo de Música atualmente é ensinado até a 4ª série. A 4ª série corresponde ao antigo terceiro ano, de acordo com os novos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN).

Sancionada pelo presidente Lula em 18 de agosto do ano de 2008, a lei que torna obrigatório o ensino de música nas escolas públicas e privadas também não é muito clara. A lei diz que “a música deverá ser conteúdo obrigatório, mas não exclusivo, do componente curricular” e é acrescida de dois artigos. Um deles determina o limite – três anos – dado pelo governo brasileiro para que as escolas se adaptem ao novo sistema. E o outro, traz a data de vigoração.

Até então, os PCN contavam com a disciplina de Arte que tinha como foco três segmentos: artes plásticas, artes cênicas e música. Poucas escolas, principalmente da rede pública, davam ênfase ou mesmo ministravam o conteúdo de música por problemas de infraestrutura.

Os problemas estruturais estão relacionados aos equipamentos necessários para o ensino de música, como instrumentos musicais, por exemplo. Maria da Cruz Bezerra, coordenadora da Unidade Escolar Duque de Caxias, no bairro Cristo Rei, explica que nem sempre as verbas repassadas pelo governo são suficientes para implementar mudanças desse porte.

Nas escolas privadas, os maiores problemas estão ligados à escassez de profissionais aptos a ensinar. No ano passado, a então coordenadora pedagógica do Colégio Sagrado Coração de Jesus (CSCJ), Teresinha Gomes da Silva, disse ser esta a grande dificuldade: encontrar profissionais aptos a ministrar o conteúdo de música, mas que também tivessem domínio das normas pedagógicas. Este ano, o problema ainda não foi resolvido.

Atualmente, o CSCJ conta com três professores de Música. Lilia Dias Braga, professora de Música do colégio e também da rede pública diz que o segundo ano não tem mais a disciplina por falta de alguém disponível a assumir a turma. “Uma das irmãs fica no terceiro [ano], mas ela não tem disponibilidade e já está cansada. Só está com essa turma porque eles [os alunos] querem muito. Eu não tenho mais disponibilidade porque trabalho em mais três lugares, além do colégio. Trabalho em uma escola da prefeitura, uma do estado e tenho uma escolinha de música”, justifica.

O mercado piauiense continua carente de pessoas licenciadas em Música. O fato não chega a surpreender, já que, dentre as instituições de ensino superior do estado, apenas a Universidade Federal do Piauí oferece o tipo de formação exigida pelas escolas, que é a licenciatura. A professora Lilia considera que isso é reflexo de uma conjunção de fatores. “Aqui não existe uma política de investimento forte no setor da educação quando se fala de música. As universidades privadas também não se arriscam a oferecer o curso que forma professores, por medo de não haver demanda.”

A professora de música ainda cita a influência do ambiente cultural no qual as pessoas – em específico, as crianças – estão inseridas. “Nós temos que aceitar a bagagem cultural que a criança traz, mas também temos que abrir novos caminhos para elas. O gosto estético dos meus alunos, por exemplo, se compõe de músicas como “Rebolation”. Eles têm pouco conhecimento de música erudita ou mesmo música popular que tenha mais qualidade. Se você pergunta se já ouviram falar de “As Quatro Estações”, eles imediatamente associam à música de Sandy e Júnior, e não à obra de Vivaldi. Isso tem relação com o que a criança ouve quando está em família. Eu amo música clássica, mas nunca a ouvi em minha família. Nesse sentido, ainda está muito a desejar.”, finaliza ela.



Reportagem: Cássia Sousa e Ludmila Barbosa
Edição: Tamires Coelho

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